domingo, 10 de julho de 2011

Revisitando Poe

No final da semana passada, depois do trabalho, resolvi percorrer as ruas de Évora durante alguns minutos. Cruzei-me com os mais variados tipos de pessoas que, aparentemente indiferentes ao meu olhar, procuravam ums sombra como refúgio ao intenso calor ou finalizavam uma sessão de compras. Assim o fiz também, procurei refúgio do calor, e acabei por me sentar numa acolhedora esplanada que visitei pela primeira vez. Pedi algo, já não me recordo muito bem o quê, e continuei a observar quem passava por ali... senti-me um pouco como a personagem do Edgar Allan Poe no "Homem da Multidão"... O meu olhar fixou-se numa mulher de meia idade que ali estava sentada, lendo qualquer coisa que não consegui discernir o que era. Talvez uma revista femenina. Havia qualquer coisa de intrigante nela. Mas há sempre qualquer coisa de intrigante se fixarmos o olhar numa qualquer personagem... experimenta fazer isso.. Eu aprendi a o fazer há uns anos, quando acatei os conselhos de várias pessoas que me diziam "não podes ficar assim... sai de casa... vai ver pessoas... faz-te bem....".
A senhora continuava a sua leitura sempre inquieta, uma vez que frequentemente espreitava para um lado e para o outro, como se estivesse à espera que algo acontecesse. Enquanto isso, eu imaginava quais seriam os pensamentos daquela mulher, qual seria o seu modo de vida, as suas ansiedades, expectativas, segredos mais profundos... a vida de cada ser humano é uma imensa mistura de sensações variadas, algumas totalmente opostas que se cruzam com uma frequência alucinante... Um equilbrio das nossas emoções que permita uma percepção de felicidade em deterimento da infelicidade é procurado por todos nós, em todos os minutos, a todos os segundos...
A senhora laventou-se apressadamente após olhar para o telemóvel, e a pouco e pouco desapareceu do meu campo de visão. Paguei a minha conta e, ao contrário da história do Poe não a segui, apesar da curiosidade.