domingo, 26 de dezembro de 2010

Declínio

Os passos que percorrem a calçada de pedra
Ecoam pelas ruas estreitas da cidade
Um homem ainda adormecido pela luz do dia
Perde a vontade própria, e sem necessidade
Leva a cabo um acto de loucura
Sobre a jovem existência que ali dormia.
Num recanto dessa rua sombria
Solta o grito que agora perdura
É o declínio!
Finalmente, o encontro com o nosso destino

Hoje toda a tristeza é possível
Como uma chuva imperceptível
Que se revela à luz dos candeeiros de rua
Tal como uma mulher à janela, nua,
Que olha estarrecida para o cão
que rasga a carne crua.
Hoje já ninguém acredita no impossível.
Todos pensam que não há nada
que não possam ignorar.
Filhos de deus, a noite chora
Ninguém vê a noite a chorar?
É o declínio!
A vitória da luz brilhante
Sobre a escuridão, nossa amante

Ignorando o choro da noite
Uma criança é abandonada à sua sorte
Alguém ao telefone
Dá a notícia da sua morte
Uma mulher diz que é engano
Não foi nenhum ser humano
É o declínio...

[22/5/2002]