domingo, 26 de dezembro de 2010

Eu sou

Eu sou o que está aqui
Sou quem desperta as sombras
Eu sou o nada que se espalha pela terra
Sou o sentimento que se disfarça de luar
E que cobre de nevoeiro a vastidão da serra

Eu sou o que já conheceste
Sou o soberano que governa a tua mente
Eu sou o feitiço que aflige a liberdade
Sou a prece que em pranto sussurras
E que torna a ilusão em realidade

Sou eu, o egoísmo transformado em demência
Loucura e arrogância fruto de uma nobre ciência
A arte e o saber de apenas existir

Eu sou o mago que ilude os teus olhos
Sou o artesão que tece verdades na tua mente
Eu sou o riacho revolto que te arrasta
Sou o transtorno que te acorda em sobressalto
E que em cada novo dia de mim te afasta

Eu sou um poema que dorme em ti
Sou a aragem que percorre o teu corpo
Eu sou fio que suporta a tua presença
Sou o caminho que te leva à vida
E que serpenteia por mim com indiferença

Sou o esconderijo para a tua revolta
Sou o refúgio para os teus beijos
Sou as ruínas do teu futuro
Sou o cemitério dos teus desejos

Sou quem ilumina o teu quarto quando queres dormir
Sou o demónio que te perturba quando queres paz
Sou o calabouço de que não consegues fugir
Sou aquele que sempre procuras
Quando de sonhar já não és capaz

[4/1/2003]