domingo, 26 de dezembro de 2010

Outras palavras

Tento erguer ao alto os braços entorpecidos. Não consigo. Parece que há uma força que me puxa para baixo, mas essa força vem de mim. Sou eu. O meu único inimigo.

Às vezes vejo a morte como uma benção, que não tenho coragem de pedir.

O começo, o despertar... despertei para um vazio em mim, mas queria despertar para o infinito. O infinito não está ao meu alcance.
Tenho que me limitar a este mundo. Não sei se posso ser mais que todos, nem sei se posso estar contigo. Não sei se os dois podemos ser um.

Mas antes, no início... o que foi que aconteceu? Foi um despertar ou um adormecer? Mas não interessa. Só não percebo o que quero entender. Não percebo porque quero que alguém me compreenda, se ao mesmo tempo não admito que alguém me entenda. Sou um ser imperfeito, feito de contradições, cercado de ilusões.

E o futuro, que futuro? Mais uma interrogação.
Mais um poema por escrever, mais um sofrimento por sofrer, outra desilusão.

E tu, o que dizes? Deixa as palavras livres. Deixa as palavras soltas. Alimenta-me com o teu ser. Preciso de ti.

Inspiro oxigénio. Expiro veneno. Assim vivo. Não, não vivo. Sobrevivo. Quanto tempo mais vou sobreviver? Será que alguma vez vou viver? E o que é para ti viver? Diz-me, esclarece-me, ilumina-me. Sobrevive comigo a estes dias. Vive comigo as nossas noites. As noites...

Fora de contexto, bebo da escrita a seiva da existência, porque assim sei que existo.

Agora adormeço. Não consegui escrever o que queria. O meu ser não permitiu. O meu ser foi corrompido por tudo e todos. Até por ti. Mas não me importo, porque existo. Não sei se continuarei a questionar, a interrogar-me. Fui eu que existi? Mas não tinha não existido? É indiferente. Por favor, não sejas indiferente... sê diferente. Diz-me que existo.

[27/4/2002]