domingo, 26 de dezembro de 2010

Fuga de mim / Insensível

Vejo que o meu inimigo já adormeceu
Por detrás daquele monte coberto agora de uma estranha paleta de cores
Caiu finalmente de cansaço, depois de um dia inteiro a assombrar-me

Vejo que a minha amiga se aproxima, vagarosa, despercebida
Contrastando com o pano de fundo que cada vez perde mais luminosidade
Chamando a minha atenção para um refúgio acolhedor e familiar

Quando me apercebo eu de que já não passo despercebido?
O amor é uma peça de arte que a meus pés se quebrou
No momento em que me chamaram para voltar de onde vim
Quando ao sentimento de conforto nada mais restava do que esconder-se
Por detrás da ignorância vivida em cada som que me tocou.
E se estou perdido na terceira alternativa ao sono que não me larga
Então o adormecer torna-se um acto patético
Quase tão ridículo como o título de uma referência que a mente guarda
Mas apenas temporariamente
Enquanto razões maiores não me tomarem a liberdade e findarem o sonho.
E estiveste tu à espera que os segundos passassem...  não percebeste?
Merda, não percebeste que o ponteiro voltava para trás? Não estava parado...
É diferente, agora que observamos tudo do passado.
Nunca pensei que a falsidade pudesse ser tão evidente
É como uma embriaguez que tenta negar a sua existência
Só para provar que existe uma lucidez para além da demência.
Não precisávamos disto. Bastava a vida como nos foi fornecida
Sem condições especiais ou qualquer garantia.
É claro que podemos sempre alterar as regras do contrato.
Pena é que essa liberdade seja apenas momentânea.
Quanto mais forte for mais... o tempo não esteve constante hoje.
Pelo espelho vi uma vida a escoar-se.
A abandonar rapidamente o centro de todas as atenções.
Muitas luzes e muitas cores! É irónico. O palco não serve apenas o propósito
Para o qual pensamos estar a representar. As luzes cegam-me.
Este é o outro lado do pesadelo que passou diante dos teus olhos. É simples.
É esse momento de paz que perturba o ténue equilíbrio
Mantido pelos dois fios unidos no mesmo ponto superior
Um sustentando a hipótese que nunca perturbou o normal curso da causa
O outro relembrando a todo o momento que o caminho não é linear.
Mais...
Foi, não, é um diamante com o centro de um negro perturbador
Um negro tão azulado que os nossos olhos se podiam perder para sempre.
É difícil notar a diferença. Foi o que eu disse. Afinal o ponto é comum. Único.

[22/11/2002]