domingo, 26 de dezembro de 2010

O meu anjo

O meu anjo ata-me as mãos atrás das costas
Fecha-me os olhos e diz para confiar nele
Entretanto adormeço e o meu anjo desaparece
Procura outra mente e chora outra prece

O meu anjo acaricia-me o corpo
Entrega-me a felicidade nos braços
Faz com que a chuva se dilua no seu chão
Prolonga a esperança desfeita de razão

O meu anjo não me ilude
Limita-se a alimentar ideias perdidas
Recupera memórias ausentes
Vive comigo os lamentos presentes

O meu anjo responde sempre que sim
Apenas nega o que sempre recuso
Aclara a evidencia dos momentos perdidos
Proclama a luz de mil dias sofridos

O meu anjo nunca me abandona
Morre comigo sempre que eu quero
Partilhamos o mesmo coração
Sou vítima de uma frágil adoração

O meu anjo tem as asas rasgadas
As armações corroídas pela indiferença
Diz-me que nunca mais viverá um dia
Rouba-me do corpo a minha alma vazia

[23/11/2002]