domingo, 26 de dezembro de 2010

Todas as almas são negras

A noite cai suavemente na cidade adulterada
A escuridão invade o reduto da esperança
Traz com ela odores de amargura
Lembrando que para sempre a dor perdura
Penetrando todas as fortalezas
Eliminando todas as certezas

Cinzas caiem perante o olhar da lua
E no chão frio depositam-se as chamas extintas
Uma leve brisa abraça a superfície espezinhada
Papeis amarrotados ensaiam a dança enfeitiçada
Pequenas misérias despertam para o ritual
Outros representam cenas de amor carnal

Almas calcinadas pelo ardor do anoitecer
Vagueiam pelas ruas despidas de luz
Ignoram o destino comum de todos nós
Espíritos sem nome e sem voz
Vivem de uma falsa esperança
Habitam nos sonhos perdidos de criança

Contemplo o cenário imenso de degradação
Relembrando as cicatrizes da minha devoção
Refugiado para sempre num mundo escondido
Sou apenas mais um ser perdido
Despertado pela benção de um afecto trocado
Adormecido pela maldição de um beijo gelado

Quem desperta agora da consciência esquecida?
Quem vive a morte dos seres perdidos?

[29/4/2002]