domingo, 26 de dezembro de 2010

Portas desiguais

Se pelo menos eu soubesse que te amo...

Simples olhares. Simples sorrisos.
Simples palavras transformadas em pensamentos.
Os minutos contigo sempre pareciam segundos
Que se me escapavam como areia por entre os dedos.
Queria ler-te os pensamentos
Queria saber quem és, que emoções te perfazem
O que pensas de alguém como eu.
Será que queria? Queria mesmo enfrentar a tua realidade?
A tua realidade, sempre vaga e ausente para mim
Seria a realidade que construí em mim?
Não acredito em seres perfeitos.
Mas tenho medo de te descobrir.
De descobrir que a tua realidade não é a minha.
Em círculos de emoções
Enfrento lamentos de desdém
Feitos de lágrimas perdidas
Ilusões desfeitas
Noites em branco.
Penso em ti e penso neles.
Eles, todos os que te desejaram
Todos os que te beijaram
Todos os que te acariciaram
Mas será que te amaram?
Se pelo menos eu soubesse que te amaram
Se pelo menos eu soubesse que te amo...

...O teu mundo menos o meu

Todos os que fazem parte do teu mundo
Todos os que significam algo para ti...
...e que descreves com apreço...
Parece todo o mundo menos eu,
O teu mundo menos o meu.

Só eu

Sabias?
Sempre soubeste?
Ou não queres saber?
Ou finges não saber?
Tu sabes. Sabes se me olhares nos olhos.
Sabes?
Do mundo que vejo em ti?
Do mundo a que continuas fingir não pertencer.
Dos sonhos imaturos
Dos futuros que jamais serão passados.
Mas eu sei o que não pode ser.
Porquê? Porque sou eu.
Tu lembras-me daquilo que sou
E do que nunca poderei ser.
Do que nunca te poderei dar
Nunca te poderei ter...
Porque sou só eu.

Um amanhecer

Das horas que foram eternidades
Lembro agora as mágoas sem sentido
De um pensamento perdido
O elogio da insanidade é real
Com a chegada do amanhecer de sombras deformadas.
Longe.
Longe do meu dia está a tua noite.
Sonho perder-me na tua noite
Por ora divago como cego neste mundo sem visão
Esperando o dia em que me distingas dos vultos irreais.

A maior ameaça para um ser humano são as características que o distinguem dos outros seres: os seus pensamentos, e a capacidade de terminar a sua própria vida.

Antecipação de um verso extinto

Um sonho perdido
Um momento sofrido
Uma realidade esquecida
De uma eternidade sem vida.
Ouve.
Ouve bem.
Ouve o vento, ouve a chuva que cai lá fora
Sente os trovões que estremecem o meu ser
Agora são apenas os clarões dos relâmpagos
Que me alimentam o espírito.
Haverá uma razão para tudo isto?
Para os pensamentos irracionais que habitam em mim?
Qual das razões?
Desde o momento em que quis abrir as portas da percepção
Que não consegui voltar atrás.
A porta fechou-se atrás de mim.
Agora residem memórias de traços de vida
Trechos de banalidade rejeitada
Este verso já não sou eu.

Só porque estás aí

Porque estás aí
E estás comigo sem que eu saiba
Penso que me arrependo
Sem me arrepender se às vezes penso.
Estás aí. Afinal estás aí.
E não mais quero saber se não te importas com as palavras
Porque afinal estás aí.
E não quero saber mais, não quero esperar mais.
Estas aí.
As palavras nada sabem.
Nós também nada sabemos.
Vamos ver o que ainda não está escrito.
Afinal a porta está aberta
Vamos escrever o que falta até morrer
E é apenas porque estás aí
Que quero continuar a viver.


[14/3/2002]